Em momentos caóticos, que exigem capacidade de adaptação e transformação como o que estamos vivendo, a resiliência passa a ser mais relevante do que nunca.
É bem provável que você que tenha se deparado com a palavra resiliência em algum momento da sua vida. Desde o século 19 o termo “resiliência” vem sendo usado, na física, como a capacidade de um material de voltar ao seu estado normal após passar um choque ou ruptura. Na psicologia, significa a capacidade da pessoa enfrentar situações adversas, estressantes, saber trabalhar sob pressão. Nos últimos anos o termo “resiliência” se disseminou no mundo do trabalho como um bordão, sendo uma das habilidades mais valorizadas do profissional do século 21.
A resiliência sempre esteve presente em nossa vida profissional, é uma competência importante, ajuda a lidarmos com as mudanças e termos visão positiva frente aos desafios. O problema é o entendimento “distorcido” sobre resiliência. A máxima de que ser “resiliente” é aguentar a pressão e o estresse a qualquer custo, saindo ileso, é um mito.
Não é raro encontrar empresas sedentas por profissionais com “alta resiliência” capazes de se adaptar a qualquer cenário. Por outro lado, é comum também encontrar profissionais que acabam se moldando para encaixar neste contexto, seja para manter o emprego ou para conquistar uma nova oportunidade. Isso acontece em ambientes onde o foco no resultado e a alta performance a qualquer custo são os balizadores da organização. Isso constrói ambientes onde resiliência passa a ser sinônimo de colocar o trabalho acima de tudo, criando um falso senso de comprometimento e não considerando aspectos psicológicos e o limite de cada pessoa, o que a longo prazo acabará gerando um efeito contrário.
A Kaiser Leadership Solution – que atua na avaliação e desenvolvimento de líderes – em uma pesquisa conduzida pelo seu presidente, Rob Kaiser, cita que forças se tornam fraquezas quando submetidas ao extremo. Derek Lusk, Ph.D. em psicologia de negócios e chefe de avaliação executiva da AIIR Consulting, diz que como pano de fundo deste discurso pode existir uma ideia perigosa: a pressão para trabalhar o máximo possível. “A resiliência se torna exploração quando é mal definida dentro de uma organização tóxica.”
A resiliência tem a ver com a nossa capacidade de adaptação, de como reagimos às adversidades e nossa capacidade de aprender com as dificuldades para encontrarmos soluções. Portanto, resiliência não é sobre aguentar tudo, suportar trabalhar sob pressão, excesso de trabalho, reuniões baseadas no grito, não dizer não, nem aturar um chefe tóxico.
Paula Davis – Laack, especialista em estresse e resiliência e fundadora do Stress & Resilience Institute, diz:
“Se você acha que resiliência é ser invencível e vulnerável, está errado. Ser resiliente não é tolerar tudo.”
“Há vários benefícios em ser resiliente: ajuda no desenvolvimento de competências como autoconsciência, pensamento flexível, conexão e percepção do estresse. Isso reflete em mais produtividade e satisfação no trabalho. Mas é preciso encontrar o equilíbrio”, complementa.
Ser vulnerável não significa sinal de fraqueza, assim como ser tolerante não significa subserviência. Da mesma forma que é impossível ser resiliente o tempo todo. A resiliência precisa ser praticada com equilíbrio. O excesso leva ao esgotamento mental e físico, a falta, ao conformismo.
Indícios de que sua resiliência pode estar em desequilíbrio:
1. Apresentar sintomas físicos e emocionais, como estresse ou dores no corpo;
2. Insistir em objetivos inalcançáveis;
3. Desperdiçar tempo em tarefas sem sentido;
4. Ter tolerância demais e aceitar tudo sem contestar;
5. Ser mais duro e insensível.
Fonte: Claudia Cavallini, Consultora e Professora na HSM Educação Executiva.
Então como podemos ser resilientes “sem extrapolar”?
- Pratique o autoconhecimento;
- Trabalhe sua inteligência emocional (autopercepção, empatia e percepção social);
- Lembre-se que você não consegue controlar tudo e nem tudo o que acontece está sob seu controle;
- Cuide da sua saúde física e mental, reserve um tempo para atividades que lhe dão prazer.
- Converse com pessoas de sua confiança. Por meio de outras perspectivas é possível refletir sobre as situações e enxergar novas possibilidades.
- Não esqueça que resiliência não é “aguentar tudo”, mas sim, a maneira como reagimos e aprendemos diante das adversidades.
A resiliência enquanto prática saudável precisa partir de nossas atitudes perante desafios. Quanto mais nos conhecemos e quanto mais reconhecemos nossos limites, mais resilientes nos tornamos.